Just hope that you are on my side, my dear...



Remexeu-se na cama sem muita vontade de levantar. Era assim todas as manhãs. Havia alguma força gravitacional que a trazia para a posição horizontal entre os lençóis. De cara, já soube que aquele seria um dos dias em que ela poderia dedicar-se inteiramente ao ócio. Acendeu o visor do celular, enganando a si mesma, fingindo olhar a hora, quando na realidade só queria checar se havia uma mensagem. Sem sucesso. Sentiu o ar comprimir-se em seus pulmões e os olhos encheram-se de um líquido denso, o qual ela enxugou com demasiada pressa, como se alguém pudesse chegar a qualquer momento. Mas estava sozinha. Como sempre estivera. Talvez esta fosse a razão para tamanho desânimo. Estava vivendo aquele medo humano de ser esquecido. Aquela sensação dilaceradora de estar ficando para trás. Era como um entalo doloroso, somado à algo imaterial pressionando suas têmporas. O esquecimento era o pior castigo. Ela não queria estar em segundo, terceiro ou quarto plano. Queria ser lembrada, queria ser amada. Queria engolir o nó em sua garganta e respirar confortavelmente. Tateou a mesa de cabeceira até encontrar uma cartela de comprimido e pôs a última pílula branca por entre os lábios. Desistiu de deglutir, apenas virou-se de lado. Pôs-se a ouvir There's Too Much Love, de Belle & Sebastian, fazendo uma prece mental para que tudo aquilo não passasse de TPM.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

1 comentários:

Rafael Bezerra disse...

Lindo, como sempre.