Era pra ter sido, uma vez...




Já beirava os trinta, fumante há quinze, ganhara uma tosse seca para o resto da vida. Os dedos exalando nicotina seguravam mais um cigarro, carinhosamente, enquanto levava periodicamente à boca. Uma caneca entre os dedos da outra mão continha dois dedos de uísque. Outrora estivera cheia. Agora quase vazia, todo aquele etílico fora convertido por meia dúzia de pensamentos. Fitava o telefone na mesinha de cabeceira enquanto encolhia as pernas sobre a cama.

Essa história poderia começar com “era uma vez”, porém...
Era pra ter sido, uma vez...

Sorrisos, café, cigarros, ganja, som, praia, sol... Isso, foi, de fato. Ela o conheceu. Não era o garoto mais vistoso, entre todas as suas opções. Mas ele a cativou. Não sabia explicar o motivo. Havia ali uma conexão etérea. Quando olhares se cruzam e deixa uma impressão de que talvez aquela fosse a pessoa para dividir uma vida.
Teriam um apartamento qualquer, viveriam de pizza. Videogame aos domingos. Depois, adotariam uma cachorra chamada Baleia - por causa do livro Vidas Secas - e ouviriam Beirut em uma tarde de folga qualquer. Vez ou outra brigariam por ciúmes e fariam as pazes na cama, ao som de The Doors. A ideia era envelhecer juntos, dividir lembranças e momentos.

Era pra ter sido, uma vez.
Se cada um não tivesse ido em direções opostas.
E agora ela diluía em sua bebida mais uma desilusão amorosa, pensando como seria se a sua vida tivesse se cruzado a dele.

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