Valsa e vapor.



Ainda éramos os mesmos, nessa dança fingida. Nesse vai e vem de ondas. Um dia essa maré há de me afogar. Enquanto isso, mergulho em seus lençóis, sinto sua pele na minha e deixo tudo como está. O que foi, passou. E nós recebemos o presente de mãos abertas, sem pensar no que será do futuro. Fica aqui. Deixa pra lá. Não sei se amanhã ainda seremos os mesmos. Pouco importa. Traz café, põe aquela música e vamos brincar de sorrir. Por hoje. Porque quando você me abraça, o mundo passa a ser meu. Nosso, talvez. Gosto de dividir as coisas contigo. Então vem, traz alegria, traz luz, arrepios, cor e som. Traz você.

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Aí.




Ao fechar os olhos podia sentir sua mão pesada sobre meus cabelos, afagando-me as madeixas escuras, com um breve sorriso de canto, que me trazia calma. Você não estava aqui. Mas havia aquela certeza de que, em algum lugar, você estaria lá por mim. E isso me bastou. A certeza da existência de um porto seguro me fazia querer levantar todas as manhãs. Não que minha vida dependesse exclusivamente de você agora, mas eu gostava de pensar que sim. Se um dia você for embora, eu serei forte o suficiente para te esquecer. Mas não vai. Fica aqui. Não aqui. Fica aí. Em qualquer lugar... apenas esteja por mim.

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Era pra ter sido, uma vez...




Já beirava os trinta, fumante há quinze, ganhara uma tosse seca para o resto da vida. Os dedos exalando nicotina seguravam mais um cigarro, carinhosamente, enquanto levava periodicamente à boca. Uma caneca entre os dedos da outra mão continha dois dedos de uísque. Outrora estivera cheia. Agora quase vazia, todo aquele etílico fora convertido por meia dúzia de pensamentos. Fitava o telefone na mesinha de cabeceira enquanto encolhia as pernas sobre a cama.

Essa história poderia começar com “era uma vez”, porém...
Era pra ter sido, uma vez...

Sorrisos, café, cigarros, ganja, som, praia, sol... Isso, foi, de fato. Ela o conheceu. Não era o garoto mais vistoso, entre todas as suas opções. Mas ele a cativou. Não sabia explicar o motivo. Havia ali uma conexão etérea. Quando olhares se cruzam e deixa uma impressão de que talvez aquela fosse a pessoa para dividir uma vida.
Teriam um apartamento qualquer, viveriam de pizza. Videogame aos domingos. Depois, adotariam uma cachorra chamada Baleia - por causa do livro Vidas Secas - e ouviriam Beirut em uma tarde de folga qualquer. Vez ou outra brigariam por ciúmes e fariam as pazes na cama, ao som de The Doors. A ideia era envelhecer juntos, dividir lembranças e momentos.

Era pra ter sido, uma vez.
Se cada um não tivesse ido em direções opostas.
E agora ela diluía em sua bebida mais uma desilusão amorosa, pensando como seria se a sua vida tivesse se cruzado a dele.

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